Enfim, é chegado o momento. A página em branco do futebol cearense começa a ser escrita pelo Fortaleza em Avellaneda, na Argentina. A saga da partida é de 101 anos tricolores, mas entra para a história pelo ineditismo. No primeiro confronto de um time do Estado além da fronteira, o Leão encara o Independiente nesta quinta-feira (13), às 21h30, no estádio Libertadores de América, pela Copa Sul-Americana.
É apenas a 1ª fase, duelo de ida, com retorno agendado para a Arena Castelão no dia 27. O peso simbólico consiste na epopeia de ascensão, que tem recorte de 11 anos. Ali, o mesmo torcedor que arrumou as malas e embarcou de avião para o exterior assistiu ao sofrimento da Série C, eliminações seguidas e a quase deterioração de um clube que sempre se fez gigante pela magnitude da torcida.
Ao entrar em campo, o filme se revela: um retrato da imponência. Abraçado no embarque, com direito à corredor de fogo na Capital, chega e sai do confronto em êxtase seja qual for o placar. A supremacia continental vem do Rojo, indiscutível, só que o Tricolor se faz grande no estrangeiro.
O potencial dos adversários nivela o desempenho, mas não omite uma evolução sob o comando de Rogério Ceni. Rumo à 3ª temporada, o comandante assumiu um estilo de jogo bem definido e ofensivo (4-4-2), além de ter ganho reforços que alavancaram a qualidade e a experiência do plantel: caso do atacante David e do volante Michel.
Estratégia tricolor
Em si, a dupla inicia a partida no banco de reservas. O último treino leonino foi na quarta (12) no estádio Nuevo Gasómetro, do San Lorenzo. O esperado reconhecimento do palco do duelo, a casa dos ‘Diabos’, foi cancelado para preservação do gramado. Nada que impeça o estudo aprofundado do campo e do adversário.
“É um time que marca muito forte, não desiste nunca, mas deixa espaços. Pode sobrar muita bola para a gente, que temos jogo rápido”, afirmou o atacante Osvaldo.
A explicação é um paralelo resumido da estratégia que será adotada em solo argentino. Com dois velocistas pelas pontas Osvaldo e Romarinho, o Fortaleza promete se fechar na defesa e explorar o contra-ataque como fator ofensivo. A postura sugere uma transição rápida principalmente pelos lados, já que os alas do Independiente se posicionam mais adiantados.
No todo, o cenário é o melhor possível pela característica dos elencos. O Leão de 2020 aprendeu a reter a bola quando necessário, dominar o ritmo pelo meio e até usar a bola aérea como alternativa. Há falhas, claro, evidenciadas em um descompasso da marcação, quando extremamente pressionado, no entanto, o saldo de maturação é positivo.
Por isso há vantagem, mesmo que o inexperiente seja o time cearense. E se o estádio comporta 45 mil lugares, a sinergia leonina mobilizou pelo menos três mil tricolores, que já transformaram Buenos Aires em extensão da Capital.
O anseio inflama e até assusta pelo nítido desconhecimento por parte do rival. Desde o sorteio em Luque, no Paraguai, que a expectativa vem se construindo, o que serve como paralelo mediante a reflexão sobre o cenário: um capítulo nunca antes visto na trajetória do Fortaleza.
E o fator especial é o que permite a mudança de contemplação. Desde a saída da Capital, o discurso é de retornar vivo no duelo e com chance de classificação. Chancelada pela Conmebol, a Sul-Americana tem o gol fora de casa com poder dobrado, ponto que permite a consistência ofensiva como aposta.
Assim, o elenco base é mantido. E a depender dos percalços do embate, Ceni treinou o sistema 4-4-2 com três volantes e um camisa 10 centralizado, função exercida pelo argentino Mariano Vázquez.
"Se eles (jogadores do Fortaleza) não jogarem os 90 minutos no mais alto nível, em algum momento, a gente cai. Então se tivermos uma grande rotação e intensidade, vamos jogar de igual para igual com o Independiente porque eles não vão baixar (a intensidade)", declarou Ceni.
Desde o início da temporada, o treinador utilizou quase 100% do elenco profissional - exceção para o zagueiro Roger Carvalho, lesionado. O processo funciona para aperfeiçoar o padrão tático final.
Como opção, a baixa além do defensor atende por Ederson. O centroavante teve um desconforto muscular e sequer viajou para a partida.
Pressão dos Rojos
O momento do Independiente é o pior possível em 2020. Como acompanha os moldes europeus de competição, está em plena temporada e, consequentemente, com uma grave crise instaurada no clube.
Com dívidas tributárias e seguidas mudanças de técnico, o time começou um novo trabalho com o emergente Lucas Pusineri. Em quatro jogos, no entanto, o comandante soma duas derrotas (Racing e River Plate), um empate (Boca Juniors) e uma vitória (Rosário Central) - desempenho que deixa os Diabos apenas na 15ª posição, distante até da zona de classificação para a próxima Libertadores.
Às vésperas da partida, parte do elenco foi hostilizado por torcedores, que cobram uma vitória diante do Fortaleza. A pressão tem crescente devido ao patamar de títulos do “Rei de Copas”, nome figurado pelos sete títulos da Libertadores e os dois da Sul-Americana, sendo o maior campeão dos dois torneios.
Em campo, a equipe deve manter o 4-4-2. O centroavante Silvio Romero, com 11 gols em 16 partidas, é o artilheiro do torneio argentino e principal aposta no ataque. Já na defesa, o goleiro Campaña surge como símbolo do sistema.
Ficha técnica
Independiente-ARG x Fortaleza
Local: Estádio Libertadores de América, em Buenos Aires, Argentina.
Data: 13/03/2020
Horário: 21h30
Competição: Copa Sul-Americana
4-4-2 | Independiente: Martín Campaña (25); Bustos (16), Alan Franco (2), Barboza (26) e Sánchez Miño (6); Lucas Romero (22), Domingo Blanco (23), Braian Romero (27) e Cecílio Domínguez (11); Silvio Romero (18) e Leandro Fernández (29).
4-2-4 | Fortaleza: Felipe Alves (12); Gabriel Dias (13), Quintero (3), Paulão (25) e Bruno Melo (30); Felipe (15) e Juninho (5); Mariano Vázquez (7), Osvaldo (11), Romarinho (20) e Wellington Paulista (9)
DN
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