Aprovado em federal, pedreiro é impedido de fazer matrícula, mas ganha bolsa de estudo
A conquista de Adenilton Nicolau, pedreiro de 47 anos que foi aprovado em Filosofia na Universidade Federal de Goiás (UFG), comoveu a internet. Sua filha compartilhou o vídeo dele recebendo a notícia no Twitter mas, depois, teve que voltar ao espaço para explicar que o pai não conseguiu efetuar a matrícula. Perseverante no sonho, Adenilton segue na luta por outra oportunidade - e já ganhou uma bolsa de estudos.
Em entrevista ao Terra, Adenilton conta que seu acesso à educação sempre foi muito restrito. Desde criança ele trabalhou na roça no interior de Goiás. Ele tem quatro irmãos, e nenhum chegou à faculdade. Adenilton tentava retomar os estudos, mas sempre acabava tendo que parar por conta do trabalho.
Depois ele foi para Goiânia, capital do Estado, se casou e teve três filhas. No início, deu prioridade à formação da esposa, que queria terminar um curso de pedagogia. Depois a família se juntou para ajudar Adenilton a concluir o ensino médio e conquistar uma vaga na faculdade.
Seu ensino médio foi concluído por volta de 2013 por meio do EJA (Educação de Jovens e Adultos). Ele precisava do diploma para começar um curso de Mestre de Obras, que o ajudaria a ter um trabalho que pagasse mais.
Pela urgência, ele acabou ingressando no EJA em uma escola particular para acelerar o processo. Foram esses meses fora do ensino público que, agora, impossibilitaram sua matrícula na universidade federal.
Início do sonho
Suas três filhas estudam em universidades públicas, e, segundo ele, a motivação para começar uma faculdade vem da força delas. Elas incentivam o pai a fazer o Enem e o inscreveram no SiSU (Sistema de Seleção Unificada) neste ano, utilizando o sistema de cota racial. Adenilton ficou em primeiro lugar em sua chamada, e a novidade deixou toda sua família emocionada.
O vídeo dele recebendo a notícia era para ter ficado entre os parentes. Mas uma de suas filhas, a Sara, ficou tão feliz que resolveu compartilhar o momento em seu perfil do Twitter. Até a última atualização desta matéria, o vídeo tinha alcançado mais de 1,3 milhões de visualizações.
Confira:
Porém, no dia seguinte, Sara voltou ao seu perfil com uma notícia inesperada: a matrícula de seu pai foi barrada por não atender aos requisitos da vaga. Por ter se inscrito no sistema de cota racial, no SiSU, Adenilton deveria ter concluído o ensino médio em uma escola pública, o que não ocorreu.
“A UFG não tem culpa nisso. O vídeo viralizou e gerou uma expectativa grande, mas isso não é o fim. Vou continuar na missão para ingressar no curso superior. Acredito que vou conseguir. Somos pessoas boas, de fé”, ressalta Adenilton.
Mas o sonho segue. Com a repercussão de sua história, ele revelou ao Terra que a direção de uma faculdade particular de sua região entrou em contato oferecendo uma bolsa de estudos. A expectativa é que, na segunda-feira, 8, deem sequência no processo.
Adenilton trabalha há quase 10 anos como pedreiro e, com a ajuda de sua família, sonha em fazer uma graduação
Sistema de cotas
As cotas são políticas públicas de ação afirmativa que têm como objetivo promover a igualdade de oportunidades e combater desigualdades sociais e raciais. O objetivo é que cada vez mais pessoas tenham acesso ao ensino superior em universidades federais e instituições de ensino federal, no geral.
No SiSU, têm direito a cotas pessoas que cursaram o ensino médio em escolas públicas; estudantes com renda familiar bruta mensal per capita igual ou inferior a 1 salário mínimo e meio; candidatos autodeclarados pretos, pardos e indígenas e pessoas com deficiência.
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