'Meus dois filhos foram mortos pelo próprio pai como uma forma de me punir'
A psicóloga Jane Soares da Silva, de 40 anos, perdeu os dois filhos, de 9 e 6 anos, mortos pelo ex-marido em 2019, em São Paulo. A Universa, ela conta como tudo ocorreu e por que luta pelo fim da lei de alienação parental.
Tudo começou quando conheci meu ex-marido, por volta do ano 2000 e, após quatro anos, iniciamos nosso relacionamento. Namoramos um tempo antes de decidirmos nos casar e ficamos juntos por 11 anos.
A convivência, no início, era tranquila, apesar de alguns comportamentos estranhos dele, como desaparecer sem dar notícias por dias.
Em 2009, enquanto construíamos nossa casa, engravidei de Lucas. A gestação foi marcada por indiferença da parte dele, que não demonstrava interesse nem mesmo nas necessidades básicas do bebê.
Após o nascimento de nossa filha, Mariah, as coisas pioraram. Ele se tornou grosseiro, não providenciava o essencial para a casa e ameaçava constantemente, inclusive se recusando a levar nossa filha ao médico quando ela estava doente.
Suas ameaças se intensificaram quando decidi voltar a trabalhar, colocando obstáculos para minha autonomia.
No Carnaval de 2019, ele apareceu para buscar as crianças, para passar o feriado com ele. O Lucas desenhava na mesinha de centro e a Mariah brincava, correndo pela casa. Parecia tudo bem, era sexta-feira.
"Ele, como sempre, demorou para aparecer, nunca cumpria o que prometia. E levou as crianças, com a promessa de que as traria na segunda-feira, mas eu nunca mais eu as veria com vida novamente".
Liguei no sábado e no domingo para checar se estava tudo bem e estava. Na segunda-feira, ele não me respondia, não atendia ao telefone e entrei em desespero. Então, liguei para a irmã dele.
Horas depois, recebo uma mensagem de texto avisando que o Lucas estava morto. Eu estava no ônibus, indo para a casa dele. Surtei, caí no chão do ônibus, gritando e chorando, fui acudida por desconhecidos e levada a um hospital.
A Mariah chegou a ser acudida com vida, foi levada ao hospital, mas não resistiu. Ele atirou contra meus filhos e depois se matou.
Hoje faço tratamento psicológico, com acompanhamento de um psiquiatra, e tento ocupar meus dias com o trabalho.
Meus pais, minha família, meus amigos, muita gente me ajudou a lidar com a dor que é perder os filhos. Por isso, luto contra a lei da alienação parental, que fez isso comigo e ainda faz com diversas mães."
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