A nova geração de dirigíveis que promete transformar as viagens aéreas

Por Laura Hall Role,BBC Travel 14/12/2024 - 09:49 hs
Foto: HAV
A nova geração de dirigíveis que promete transformar as viagens aéreas
Empresas estão desenvolvendo dirigíveis modernos como alternativa verde para o transporte aéreo

Tecnicamente falando, o dirigível é basicamente um carregamento de ar quente: uma aeronave com propulsão própria, tipicamente em forma de charuto, composta de um imenso balão cheio de gases quase sem peso que o elevam no ar. E inclui um carro ou gôndola fixada ao balão, para transportar passageiros, carga e a tripulação.

É verdade que os dirigíveis nos remetem a imagens do passado, em preto e branco. Afinal, eles foram populares no início do século 20, antes do progresso da aviação como a conhecemos. Mas, agora, eles estão voltando.

Modernos avanços tecnológicos, aliados à necessidade de desenvolver a aviação em um momento em que ela luta lentamente para se tornar carbono zero, levaram os engenheiros aeronáuticos a examinar o retorno do dirigível.

Desde a época do seu auge, foram desenvolvidos novos materiais, como formas inovadoras de nylon ultraleve, que possibilitam a fabricação de um novo tipo de aeronave.

Os novos avanços e os padrões mais rigorosos da aviação atual significam que o único ponto em comum entre o Hindenburg e as novas aeronaves, na verdade, é o seu formato — além de que ambos fazem uso de um gás mais leve do que o ar.

Como o dirigível voa tipicamente a cerca de 100-130 km/h, ele nunca irá atingir a velocidade de um avião a jato. Mas ele está sendo estudado como meio de transporte lento, como os navios de cruzeiro e os trens noturnos, onde a experiência do passageiro compensa a baixa velocidade.

Os dirigíveis voam a altitudes menores que os aviões, com cabines despressurizadas. Nelas, você pode abrir a janela e olhar para fora, o que oferece mais conforto para os passageiros.

O grande balão também consome muito menos energia e pode vir a ser operado com motores elétricos para decolar e durante a pilotagem. Com isso, o dirigível seria uma forma de transporte aéreo sem emissão de carbono.

"Que bom que estamos testando diferentes ideias e inovações", afirma o especialista em aviação Thomas Thessen, professor da Universidade de Aalborg, na Dinamarca, e analista-chefe da Scandinavian Airlines. "Explorar diversas soluções é fundamental para melhorar a aviação e torná-la mais sustentável no futuro."

"A principal vantagem que vejo é que eles podem ficar no ar por muito tempo, além da sua capacidade de voar verticalmente."


Os dirigíveis voam a uma altitude menor do que um avião, com cabines não pressurizadas e vistas panorâmicas

Os dirigíveis não precisam de pistas de pouso e decolagem. Eles podem decolar e aterrissar em qualquer lugar onde haja um espaço plano suficientemente grande para eles. Pode ser um local simples como um campo aberto, desde que exista algo onde eles possam ficar presos.

Isso significa que eles podem ajudar a resgatar pessoas, no caso de desastres naturais, quando pode não haver internet e telefonia disponíveis.

O maior dirigível do mundo é o LTA Pathfinder 1. Atualmente, ele está em fase de testes no Vale do Silício, na Califórnia.

O zeppelin de nova geração tem 124,5 m de comprimento por 20 metros de largura. Seu tamanho é equivalente a quatro dirigíveis da Goodyear e ele é mais longo que três Boeings 737.

Um dos poucos fabricantes de dirigíveis do mundo a postos para entrar no mercado de aviação é a LTA — abreviação de "mais leve que o ar", em inglês.

A companhia foi fundada por Sergey Brin, ex-presidente da Alphabet, a empresa dona do Google. Ela acredita que os dirigíveis da nova geração possam reduzir a pegada de carbono da aviação, utilizando hélio no interior do balão para se manterem no ar, no lugar de um motor a jato emissor de carbono, e motores muito menores para impulsão.

Os dirigíveis podem ser usados para transporte de carga ponto a ponto mais eficiente (não entre aeroportos) e auxílio humanitário. A aeronave pode oferecer apoio a equipes de resgate, fornecendo suprimentos mesmo em locais onde houver danos às pistas de aterrissagem, portos e estradas.

A LTA não está totalmente sozinha. A empresa francesa Flying Whales ("baleias voadoras", em inglês) também desenvolve atualmente dirigíveis cargueiros. Seu objetivo é reduzir o impacto ambiental do transporte de carga.

Já a companhia britânica Hybrid Air Vehicles (HAV) se dedica ao desenvolvimento de um dirigível híbrido (com motores elétricos, além do hélio) para oferecer viagens aéreas sem emissão de carbono.

A aviação sustentável ainda tem um longo caminho a percorrer até se tornar uma solução de transporte de massa. Mas estes progressos representam uma pequena revolução nos ares.

Ao lado do combustível de aviação sustentável e dos aviões elétricos, a nova geração de dirigíveis oferece uma alternativa para a aviação atual e seu uso intensivo de carbono.


Como os dirigíveis não precisam de pistas de pouso, eles podem decolar e aterrissar em qualquer lugar, desde que haja um espaço grande e plano disponível

"Dizemos que o Airlander conecta o desconectado", afirma a chefe de marketing da HAV, Hannah Cunningham.

O Airlander 10 é o primeiro dirigível comercial da empresa — um veículo com formas curvas cheio de hélio, que poderia muito bem estar em uma história em quadrinhos.

Mas ele tem usos distintos. Um deles é conectar ilhas remotas, onde a construção de aeroportos é economicamente inviável.

"Com uma aeronave deste tipo, você não precisa de muita infraestrutura, como um aeroporto ou linha de trem", explica Cunningham. "Tudo o que você precisa é de uma superfície plana para aterrissar."

"Ele abre muitas oportunidades de conexão de locais que, atualmente, não estão conectados, como comunidades em lugares como as ilhas e as Highlands da Escócia."

O Airlander 10 terá quatro motores a querosene. Mas, com seu casco cheio de hélio, ele emite 90% menos CO₂ do que uma aeronave típica. A HAV pretende ter um motor elétrico alimentado a células de combustível de hidrogênio e oferecer voos com zero emissão de carbono até 2030.

O dirigível viaja a uma velocidade máxima de 130 km/h e pode operar como veículo de transporte de passageiros com até 90 pessoas a bordo.

Sua rapidez está longe de se comparar aos aviões — um jato comercial de passageiros comum voa a 770-930 km/h. Mas o dirigível também não pretende substituí-los.

Seu grande benefício é a possibilidade de conectar lugares onde a infraestrutura é muito cara ou há pouca quantidade de passageiros, segundo Cunningham.

Mas os projetos estão caminhando em alta velocidade. No ano passado, a HAV assinou um contrato com a companhia aérea espanhola Air Nostrum, dobrando suas reservas do dirigível Airlander para 20 unidades. A intenção é adotar o dirigível para o transporte de passageiros a partir de 2028, entre as ilhas espanholas e o continente.

Com um local equipado para a construção de aeronaves híbridas e a certificação junto à Autoridade de Aviação Civil a caminho, os dirigíveis poderão ser certificados como seguros para voar e entrar em produção nos próximos quatro anos.


Os dirigíveis voam a baixa altitude, com cabines despressurizadas e cenários espetaculares