Unicamp revoga título de doutor honoris causa de coronel apoiador do AI-5
O Conselho Universitário da Unicamp (Consu) decidiu hoje, por unanimidade, revogar o título de doutor honoris causa concedido em 30 de novembro de 1973 ao tenente-coronel Jarbas Passarinho, que foi ministro do Trabalho, da Educação e da Previdência Social durante a ditadura militar (1964-1985) e apoiador do AI-5 (Ato Institucional nº 5) — decreto que endureceu a repressão pelo regime.
Passarinho, que também foi senador pelo Pará, é autor da frase "às favas, senhor presidente, neste momento, todos os escrúpulos de consciência", dirigida ao então presidente Costa e Silva para justificar a assinatura do AI-5, em reunião de 13 de dezembro de 1968.
Ao revogar este título, estaremos fazendo a reparação histórica daquela decisão, deixando clara que ela foi tomada em 1973, em função do contexto, não tendo nenhuma relação com os méritos necessários previstos em nosso estatuto. Ao fazer isso, essa reparação histórica, estaremos abraçando a nossa história, de uma universidade comprometida até a raiz com a democracia.
Para os docentes que compõem o Consu, porém, este não é o caso de Passarinho — e a revogação da honraria que lhe foi concedida seria uma forma de reparação histórica às pessoas e famílias vítimas da repressão na ditadura militar.
"Bastaria lembrar que o coronel Jarbas Passarinho foi um dos signatários do AI-5, responsável por anos de perseguição em nosso país e que significou a permissão de governantes para desferir punições de maneira arbitrárias contra os que eram considerados inimigos do governo na ditadura", disse a professora Silvia Gatti, presidente da ADUnicamp (Associação dos Docentes da Unicamp).
Em abril deste ano, a UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) também revogou o título de doutor honoris causa de Jarbas Passarinho. A decisão, porém, não foi unânime: houve 34 votos favoráveis, dois contrários e oito abstenções.
Mauro Benevides - Decoro parlamentar vilipendiado
Tom Barros - A retomada de um sonho tricolor