“A Sociedade da Neve”: a história real por trás do filme da Netflix

Por Leo Caparroz 16/01/2024 - 15:11 hs
Foto: Imagem: Bettmann / Getty Images/Reprodução
“A Sociedade da Neve”: a história real por trás do filme da Netflix
O filme aborda o caso dos 16 sobreviventes do desastre aéreo conhecido como "milagre dos Andes".

Estreia da Netflix, “A Sociedade da Neve” é a mais recente adaptação da história real do voo 571 da Força Aérea Uruguaia, um acidente em que 29 pessoas morreram há mais de 50 anos, em 1972.

O avião saído de Montevidéu, capital do Uruguai, levava 45 pessoas: membros do time de rugby Old Christians Club e seus amigos e familiares. A equipe jogaria em Santiago, no Chile.

A aeronave caiu no meio da parte argentina da Cordilheira dos Andes, e os sobreviventes passaram por duras circunstâncias até serem resgatados. Precisaram, inclusive, alimentar-se de carne humana.

O filme conta a história do acidente e como os sobreviventes aguentaram fome e temperaturas congelantes durante quase dois meses presos na neve.

O filme conta a história do acidente e como os sobreviventes aguentaram fome e temperaturas congelantes durante quase dois meses presos na neve.

O filme espanhol liderou os mais vistos da Netflix em sua semana de estreia com 22,9 milhões de visualizações. A direção é de Juan Antônio Bayona e a inspiração vem do livro homonômico de Pablo Vierci, amigo de infância dos jovens no voo. O longa teve 8 indicações ao prêmio Goya (o mais importante do audiovisual do país) e deve concorrer ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. Conheça a história real por trás da tela:

O acidente

Os passageiros já tinham feito uma parada forçada em Mendoza, na Argentina, devido a uma tempestade. As condições do clima não melhoram no dia seguinte, mas o avião partiu mesmo assim.

As nuvens eram densas na região e bloqueavam a visão dos pilotos. A navegação, então, dependia essencialmente dos instrumentos da aeronave. Achando que estavam perto do destino, o copiloto pediu permissão para descer em Mendonza. O aeroporto, que também estava com os radares comprometidos, concedeu.

Na descida, o avião passou por uma forte turbulência. Quando saiu das nuvens, eles não viram a pista de aterrissagem do aeroporto. Pelo contrário: se depararam com a Cordilheira dos Andes.

Na queda, apenas 33 dos 45 passageiros sobreviveram. Os que restaram passaram por um verdadeiro inferno nos meses seguintes.

O maior desafio era, sem dúvida, sobreviver às nevascas e temperaturas congelantes dos Andes. Eram quase -30°C e o perigo constante de congelamento. Os integrantes do grupo davam socos uns nos outros (o que ativava a circulação de sangue nas regiões atingidas) para se manterem aquecidos.

O que também dificultou a sobrevivência foi a escassez de comida. Eles encontraram alguns suprimentos no avião, como bolachas, chocolates e bebidas, mas não durou o suficiente. Para matar a sede, bebiam a água derretida da neve.

O frio extremo e a fome foram, aos poucos, derrubando sobreviventes – mais seis morreram nos dias seguintes e outros oito acabaram soterrados por uma avalanche. Quem sobrou recorreu à carne dos cadáveres para prolongar seus dias.

Quase dois meses depois do acidente, o número de sobreviventes já tinha caído para 16. Eles estavam ficando mais fracos e sem tempo: ou eles saíam do abrigo para procurar ajuda, ou iam todos morrer na neve.

Dois sobreviventes, dos poucos que ainda conseguiam andar, partiram na missão para o resgate: o plano era escalar uma montanha e torcer para encontrar algum vilarejo que oferecesse ajuda.

Foram cerca de 60 km, percorridos em dez dias, até avistarem outro humano. O homem trouxe ajuda e os dois conduziram as autoridades até o restante dos sobreviventes. Um helicóptero resgatou os 16 jovens do meio da neve.

Repercussão

A história do “milagre nos Andes” se espalhou rapidamente pelo mundo, tanto o emocionante relato do resgate como o espantoso caso de canibalismo. Os uruguaios defenderam suas ações, dizendo que essa tinha sido a única forma de sobreviver nas condições extremas.


“O acidente é muito conhecido no Uruguai, especialmente no mundo do rugby, e nos ensina sobretudo que nunca devemos nos dar por vencidos”, diz o uruguaio Emiliano Caffera, técnico da seleção brasileira de rugby. “O respeito e o cuidado que eles tiveram uns pelos outros é admirável, porque estamos falando de decisões que colocavam em jogo as suas próprias vidas. Então, eles foram muito organizados, disciplinados e fizeram um grande trabalho em equipe, tendo sucesso à base de perseverança e amor”.

Os sobreviventes escreveram diversos livros. Fotos do acidente e cartas escritas por eles e pelos companheiros falecidos também contam a história da tragédia.